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As Aventuras de Tom Sawyer

Mark Twain (pseudônimo de Samuel Langhorne Clemens) foi um homem à frente de seu tempo e esteve em contato com toda a
gente -- desde os negros do sul dos Estados Unidos até editores, jornalistas, empresários e cientistas. Nascido em 1835 e morto em 1910, o aventureiro norte-americano viajou pelos Estados Unidos e pela Europa, e suas andanças resultaram não só nos relatos humorísticos, pitorescos e muito sagazes acerca das diferenças culturais entre os lugares por ele visitados, mas também no amadurecimento do escritor, que era nacionalista de um modo revolucionário, porque era contra o falso moralismo pregado pela religião, contra a política opressora e contra a discriminação.
Do processo de amadurecimento do homem que já foi jornaleiro, jornalista, funcionário fluviário no rio Mississipi e escritor de viagens nasceu a obra Aventuras de Tom Sawyer, publicada originalmente em 1876. Terceiro volume da coleção Clássicos da Literatura Juvenil, o livro foi ilustrado por Alberto Naddeo e traduzido nada mais, nada menos do que por Monteiro Lobato, considerado nosso maior escritor de livros infanto-juvenis (tendo sido ele também um homem à frente de seu tempo e até mesmo um visionário).
A narrativa desta ficção é apresentada por um narrador onisciente seletivo e muito íntimo de um estilo coloquial. Ele está preocupado não só em narrar detalhadamente a evolução dos pensamentos do garoto travesso e muito inteligente que é Tom, desde o momento em que começa a imaginar coisas até que as transforma em peripécias, mas em trazer aos olhos do leitor a interação entre o mundo do menino e daqueles que o cercam -- seus familiares, seus melhores amigos, seu afeto (ou desafeto; isso depende do momento em que ele se encontra), e as pessoas da cidadezinha do sul onde vive. Ali, Tom Sawyer, o garoto órfão criado pela tia Polly, conhece Huckleberry Finn, o garoto contra todas as regras sociais vigentes, e com ele e seu outro amigo Joe Harper arma as maiores aventuras, tais como ser um pirata e "fugir" para uma ilha durante dias e dias (para o desespero das famílias, que chegam a dá-los como mortos) e passa pelos piores apuros, como testemunhar assassinato e roubo.
De uma forma bastante fluida, o narrador dá conta de escrever especialmente para crianças, e não o faz porque diz que a história é dedicada às crianças, mas porque ele afirma ser sobre crianças e, sobretudo, porque ele consegue, de modo intenso, "entrar" na mente delas, trazendo para os leitores a inocência, as superstições (herança do contato com a comunidade negra), a falta de responsabilidade, a ausência do senso de perigo real, a alegria, e a tendência ao drama que muitas delas possuem -- neste caso, especialmente o protagonista. Para fazer isso, o escritor mistura diálogos com descrições de lugares e de coisas com relatos de aventuras e de ações das personagens, e o resultado é uma mistura rica que traz com humor, junto a esse universo infantil, uma forte crítica ao moralismo e à forma opressora pela qual, segundo o autor, o país era governado na época em que a história é situada (anos 30 e 40 do século XIX). Vale a pena citar um trecho para destacar este aspecto da obra:

"Em seguida vestiram-se, ocultaram os apetrechos bélicos e puseram-se a andar, lamentando que nos tempos de hoje não houvesse mais bandoleiros, e querendo saber que é que a civilização dera ao mundo em troca. Tom e Joe preferiam ser bandoleiros por um ano na floresta de Sherwood a serem presidentes dos Estados Unidos pela vida inteira" (TWAIN, 1876; 1971: 76-7).

Este pensamento de Sawyer dá-se após uma sessão de brincadeiras em que ele e Joe fingem ser Robin Hood, e o fato de ser Robin Hood a personagem escolhida nessa passagem não se dá ao acaso, pois Robin Hood agia principalmente contra o governo de John II e lutava contra a exploração e os desmandos dele sobre a população oprimida dos feudos ingleses. Dito de outro modo, é tal como o escritor deixa o leitor interpretar: ele prefere menos burocracia, menos hipocrisia, menos morosidade, menos miséria, trazidas pela "civilização" e pela organização social e política, e mais liberdade, mais colaboração, mais igualdade e mais felicidade, num espírito herdeiro dos ideais revolucionários franceses.
Não vou, é claro, entrar no mérito da história da literatura estadunidense, mas seguramente faço coro com grandes escritores, como William Faulkner e Ernest Hemingway, ao afirmar que Twain é um mestre a ser reconhecido e reverenciado como um autor cujo trabalho o firmou como um dos maiores de seu país.

Fonte de informações sobre o autor: http://pt.wikipedia.org/wiki/Mark_Twain

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